Questão: 2367225
Ano: 2024
Banca:
Órgão:
Prova:
Texto 10A2-I Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas. Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica. Carla Madeira. A natureza da mordida. 1. a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações). As palavras “Olívia” e “oliva”, no trecho “Olívia e oliva combinavam” (segundo parágrafo do texto 10A2-I), representam um exemplo de
Parônimos: são palavras parecidas na pronúncia e na escrita, mas que possuem significados diferentes.
Questão: 1963786
Ano: 2022
Banca:
Órgão:
Prova:
Texto CB1A1-II A palavra “corrupção” tem origem nas palavras latinas corruptio e corrumpere , que indicam algo que foi corrompido, deturpado. Por ela ser um termo polissêmico, entendemos que a sua história conceitual é incerta. É usual o tratamento da corrupção sob uma perspectiva moralista, como algo resultante da falta de caráter dos indivíduos. Contudo, tal abordagem não apresenta validade científica, já que moral é um atributo individual, dotado de subjetividade e culturalmente circunscrito. A manifestação de práticas corruptas pode-se dar em ambientes públicos ou privados, a partir de numerosos tipos de ação e em variada magnitude. Em todos os casos, a corrupção sempre se materializa a partir de trocas entre os agentes. Em relação a quem participa da troca corrupta, em situações nas quais há participação de agentes públicos, distinguem-se três tipos de corrupção: a grande corrupção, a corrupção burocrática (a pequena corrupção) e a corrupção legislativa. A primeira normalmente se refere a atos da elite política que cria políticas econômicas que a beneficiem. A segunda tem a ver com atos da burocracia em relação aos superiores hierárquicos ou ao público. A terceira se relaciona à compra de votos dos legisladores. Nas três formas, encontramos algum tipo de pagamento. Isso nos leva a concluir que a corrupção tem uma natureza essencialmente econômica: ela é uma troca socialmente indesejada. Com isso, queremos dizer que, apesar de não se configurar necessariamente como ilegal em todos os seus tipos, ela se configura como um jogo de soma zero entre a sociedade e os participantes do ato corrupto. Luiz Fernando Vasconcellos de Miranda. Corrupção : debate conceitual. In : Cláudio André de Souza (org). Dicionário das eleições . Curitiba: Juruá, 2020, p. 209-210 (com adaptações). Em relação a aspectos linguísticos do texto CB1A1-II, julgue o item subsequente. No primeiro parágrafo, o vocábulo “polissêmico” diz respeito à multiplicidade de significados da palavra ‘corrupção’.
No primeiro parágrafo, o termo “polissêmico” refere-se à multiplicidade de significados da palavra “corrupção” (termo polissêmico, cuja história conceitual é incerta”). A palavra “corrupção” abrange diferentes sentidos. Ela pode indicar o ato de corromper ou o estado de algo corrompido; um desvio em relação à forma original, conhecido como corruptela. Pode significar a modificação das características originais de algo, ou seja, uma adulteração. Além disso, corrupção também se refere ao ato de oferecer suborno para obter benefícios pessoais ou para terceiros. Outra acepção envolve o uso de métodos ilícitos por servidores públicos para obter informações confidenciais e, com isso, obter vantagens para si mesmos ou para terceiros. Por fim, corrupção pode se referir ao processo de decomposição de matéria orgânica, geralmente provocado por microrganismos, também chamado de putrefação. E a polissemia ocorre quando uma palavra ou expressão possui múltiplos significados além do original. Exemplos incluem frases como: “João machucou a mão”, “A rua é mão única para a esquerda”, “Não abra mão dos seus direitos” e “A decisão final está nas mãos do juiz”.